Sou do tempo em que se partilhavam cigarros e éramos felizes assim. Sou do tempo em que se dizia: “Amo-te para sempre” e todos sabíamos que não podia ser para sempre. Mas prometíamos. Não concebíamos outra espécie de amor. Sou do tempo das serenatas e das drogas leves e pesadas. Da mão que ergue a outra mão, que não julga. Sou do tempo em que se experimentava tudo: dormir ao relento, trair, ser traído, chorar uma semana inteira, prometer atravessar um oceano só para o ver. Sou do tempo em que um amor podia durar apenas uma semana mas ficava marcado a vincos no coração. E aquela pessoa nunca se destruía ao nosso olhar. Sou do tempo em que os planos de futuro eram todos bons ou uma treta, dependendo da qualidade do vinho que se estivesse a beber. Era tão longe o futuro. Éramos tão felizes. Todos. Um por um.
Agora, não sou de tempo algum. Talvez alguém tenha descoberto alguma coisa que eu ainda não descobri. Talvez se tenham já todos habituado. À perda, à desilusão, ao desencanto. Mas como, como, como? Dou por mim a olhar nos olhos de quem foi de um tempo que eu não sei, a ver se deslindo, a ver se me encontro, a ver se dou com alguma outra coisa igual à minha. Mas não. Ainda guardo esta eterna revolta que não consinto que descambe em melancolia. Podia ser cansaço. Não é. Eu, simplesmente, não vos compreendo.
Eu também não.
ResponderEliminarP.S. não passes a ferro o teu coração.