quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Fazer doer

Custa-me tanto gente a doer-se à minha custa. As lágrimas que me choram, choro também. Em cada não que digo e disse, a minha alma também se partiu, como se fosse eu a receber a dor que o acompanha. O mesmo com os meus amigos. Enfraquecem-me os corações partidos. Nem preciso que digam . Basta saber. "Ele foi-se embora", "Ela tem outro amor", alguém já não quer, mentiu, fugiu, virou tudo ao contrário. São histórias de sempre e continuam a bater-me como a primeira vez que percebi que gostar não chega, que amar é, por vezes, pouco. Mas como? Devo ter feito tantas vezes a pergunta e são ainda estes estilhaços de desilusão e compreensão que afinal isto aqui que penso aquilo que sinto o que pensava que era não é bem assim, que me tolhem, me encurvam. Eu ouço os desabafos e encolho. A multidão dá palmadinhas nas costas: o segue em frente. Seguimos todos. Mas eu, eu fico sempre um bocado mais a olhar os destroços de tudo sem perceber. As mãos que se desapertam, os nós que se desfazem, os dois que agora são outros dois. E depois niguémn acredita. Sou eu lá exemplo... Ninguém acredita que me custe este tanto. Mas custa.
Por isso, quando sou eu a dizer não, fico sempre à espera que o mundo me desabe. Quando sou eu que parto, não sei lidar comigo.

2 comentários:

  1. Essa é a nossa verdade. Que só nós entendemos. Que a vida é uma sucessão de partidas. De despedidas. Do acenar de uma mão, de uma lágrima que cái, numa viagem sem volta, de um comboio qualquer. Desta dor, TU e EU, entendemos. Que não é a morte o fim de tudo mas sim a vida. As perdas em vida que custam mais que qualquer morte. De despedidas forçadas por erros de outros. De corações marcados por felicidades alheias a nós. Entendo-te. Perfeitamente.

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  2. E balança-se, entre a dor que nos causa o que deixamos e a dor que podemos causar ao outro. Como se fosse possível carregar às costas o peso das dores alheias... Como te compreendo.

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