domingo, 12 de agosto de 2012

Posso?

Todas as famílias são esquisitas. A minha avó éra-o só mais um bocadinho. Quando me pedia para ir comprar vinho ao café, na volta, cantava-me um fado. De joelhos, em frente àquela figura enorme e amargurada, eu sorria um sorriso que devia ser triste e tonto. Era uma tonta. Ela dizia: "És tão ingénua, vais sofrer tanto com isso". E continuava a cantar. Eu era tonta de uma felicidade que não tinha justificação e a minha ingenuidade era essa. Tudo era possível. Quando cresci, lembrava-me da minha avó nos comboios, qunado os revisores olhavam para as minhas pernas, quando os senhores que passavam na rua me diziam coisas feias e despropositadas. Agora, hoje, neste segundo, continuo igual. Toda a minha violência é uma defesa. Eu sou umas pernas, uns lábios, umas mamas, uma barrriga, uns pés, uns olhos. Sou isso tudo, desde sempre. E, como não me considero um convite, continuarei a andar de baloiço vestida com uma saia, mesmo que se vejam as cuecas.

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