sábado, 18 de agosto de 2012

Carta aberta a quem me gosta

Obrigada por me convidarem para almoçar. Senhores doutores. Marinheiros. Meninos de lábios cheios e com menos dez anos de vida do que eu, músicos cheios de pinta, mecânicos educados e colegas gentis. Obrigada pelos elogios obrigada pelos telefonemas e pelos tapetes vermelhos sempre estendidos. Obrigada até aos imbecis e aos egoístas aos extraterrestres e aos inúteis: no meio da sombra em que estou, até estes me conseguem ver. Obrigada. Daqui do sítio onde deveria estar o meu coração. Mas não posso. O coração ocupou o lugar do estômago. Não tenho muito apetite. Aproveito ainda para te pedir desculpa Mãe por não ter casado por não ter escolhido "alguém para me ajudar na vida" como tu dizes nessa tua maneira engraçada e triste de uma geração que nem deveria ser a tua. Desculpa Pai. Por ser assim torta e escolher o caminho das pedras. Por gostar dos que têm cabelos esquisitos e vidas complicadas, por me apaixonar por suicidas livres dependentes mágicos e ilusionistas. Por amar gente de verdade, que vive num mundo que não existe. E que, quando existe, e é de pedra e cal, me assusta. E corro... apavorada.

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