quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Heróis

As crianças não precisam de pais heróis. Para isso têm o Spider Man, o Batman, o Hulk, a Barbie (a heroína da sedução). As crianças precisam de pais que pedem desculpa. Precisam de pais que erram. Precisam de pais que prometem e cumprem e que se não o conseguirem vão explicar duas, três, quatro, mil vezes, a razão pela qual faltaram à promessa. A olhar olhos nos olhos. As crianças não precisam de pais com músculos, que derrubam o vizinho com um sopro. Nem de mães que se desentendem com professores. Precisam de pais humanos. As crianças têm um mundo de imaginação que não precisa de mentiras em forma de maternidade ou paternidade. As crianças que crescem a acreditar que os pais são heróis perdem tudo demasiado cedo: a crença. Desconhecem tarde de mais a verdade: que, tal como eles, somos feitos de dúvidas. De perguntas. E que é isso que nos fez crescer e avançar e construir. Que nos permitiu ir à Lua e a Marte, inventar o Betadine e o Pacemaker. Que, tal como eles, também não sabemos coisas. Que, eles mesmos, os nossos filhos, nos ensinam tanto ou mais quanto aquilo que lhes tentamos ensinar. As crianças precisam de pais melhores: reais. Porque crescer a acreditar que um pai ou uma mãe pertencem à categoria dos heróis é, um dia, partir-lhes o coração. Amar é dizer a verdade. (Mas isto é só o que eu acho).

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