sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Eu não sou a Florbela Espanca não posso pagar a psicólogos nem consumir drogas

PREFÁCIO É também por isso que escrevo. A Florbela Espanca nasceu triste. Eu não. Dizem que queria voar. Que me atirei de um lugar alto e me parti toda. Uma criança que quer voar nasceu feliz. Desculpem-me os que aqui chegam e se deprimem. Não voltem. Não publicito este sítio. Assumo o meu nome porque cresci. E isto também sou eu. Quem me conhece sabe que sou a que fala mais alto, a última a deixar de dançar, a que conta anedotas. Não vou a psicólogos porque já fui e deixei de ter dinheiro para ir. Pouco fizeram. Queriam que eu falasse com uma cadeira e que fingisse que ali estava eu. Percebi o jogo. Não entrei na cura. Se , em 33 anos de vida, algo aprendi é que somos aquilo com que nascemos, mas acima de tudo aquilo que vivemos. E que vimos. Nada posso contra isso. Também não posso tomar drogas. Tenho um filho, não me é permitido morrer. Respeito quem me ama, a minha família. E tenho más ressacas. ASSUNTO Eu tinha quatro anos quando por amor, ciúme, vida, confusão, imaturidade, o meu pai me levou da minha mãe. Adorei-a quinze anos. Amei-a como só amo o meu filho. Todas as noites olhava para a Lua e sabia que ela via essa mesma Lua. E que me amava. Depois cresci. E ela estava sempre pouco tempo. Apenas no Verão. Nas Férias Grandes. No dia em que ela tinha de partir e me deixava no Vale, o comboio partia às 16h00 e desde as 16h15 (a hora a que eu chegava a casa), eu e a minha irmã mais velha fechávamos as janelas e chorávamos até adormecermos. Não comíamos. Ninguém nos acordava. Percebiam. O Pai. Os avós. Chorávamos essa metade do dia inteiro e uma parte gigante do que podíamos ter sido ficou ali, naquele colchão, ano após ano. Foram 10 anos. Mais ou menos. É uma dor incompreensível. É viver o luto de alguém vez após vez. Interminavelmente. Fiquei violenta. Até com quem amo. Perdi o meu amor porque o amo. Perdi o meu amor porque sempre tive medo de o perder. E perdi-o. Se o encontrarem um dia (e alguns de vós sabem quem ele é), digam-lhe apenas isto: eu não sei amar de outra maneira. Ele que me perdoe. Um dia. E, se puder, que me dê um toque (tenho a campainha estragada), que eu abro-lhe a porta.

5 comentários:

  1. Tanto que se perde pelo medo de perder...
    Beijinho*
    post bem forte

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    1. Obrigada Anita. O medo é o MONSTRO. Espero viver o suficiente para o combater.

      E tu? Forte?

      beijinhos

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  2. Este post é dedicado a Sandra Anderson :)

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  3. Gosto tanto, mas tanto de aqui vir. És fora de série, não só porque escreves lindamente mas porque a tua escrita vem do coração.

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    1. Maria, obrigada. Que outra forma de escrever haverá? :)

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