quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Filho

É assim. De início, ninguém compreende. Nem nós. Mas tem de ser. Não se ouve nada, não há arrepios, nada disso, mas no dia seguinte uma luz gigante invade-nos a vida, para nunca mais nos abandonar.
Fiz tanta coisa mal, porque não sabia. A culpa de não saber. Aproximamo-nos de algumas mães até entendermos que esta é uma relação que tem apenas a ver connosco. Mãe e filho. E pai e tias e avós e restante família, é certo. Mas será sempre entre mãe e filho. Esta parte, que é a minha única parte, não obedece às regras dos outros. Tanta coisa que se faz mal. Não conto. São os meus erros de mãe. Os meus arrependimentos. Chegar tarde. Não ter estado lá todos os dias da vida dele. Ser mãe é um nó na garganta, há-de ser sempre um nó na garganta. Querem saber? É preciso coragem, muita, um camião de coragem. Vamos errar e errar. E não há como voltar atrás. Nunca mais poderemos voltar atrás. Querem saber? É preciso liberdade. Um mundo de liberdade. E de esperança. E quem me vier dizer que um filho não nos faz melhores, está enganado. Um filho só nos faz melhores. Nunca nos poderá fazer piores. Mesmo as piores pessoas, tenho esta certeza, houve um dia, uma hora, um minuto, em que foram o melhor que podiam ser, por causa deles: dos filhos.
Há tanta treta, às vezes é muito, demasiado difícil. Não sabemos, o que vale para tantos, nada vale para nós. Somos extraterrestres no Jardim de Infância, na Escola. Somos julgados, comparados. Queremos agarrar no nosso filho e fugir para o ninho. Não podemos. Ter um filho é crescer. Bom dia, sou a mãe do... e sou uma adulta. Custa tanto acordar cedo e às vezes não custa nada. Vomitam a sala inteira. São injustos, chatos, mimados, espelhos das nossas fraquezas. Ficam doentes e nós também. Fazemos a cama de lavado três vezes numa noite. Não temos tempo para tomar banho. Numa reunião, estamos nervosos porque é hora de os ir buscar à escola. O coração aperta: já estamos a falhar. Mas nada, nada se compara a isto que se sente por um filho. Nenhum amor, nem o primeiro, nem sequer o último. Nenhuma paixão, ficarmos milionários, o melhor sexo do mundo, a amizade mais leal, a viagem mais fantástica, o sucesso mais suado.
Nunca, nunca, nunca. Nunca me arrependi. E queria que soubesses disto, filho.

6 comentários:

  1. Que post comovente :)
    É sempre bom recordar aos filhos, para além dos gestos diários que representam o amor que se lhes tem, através de palavras que ficam registadas e que eles podem sempre recordar e avivar sentimentos, em momentos mais difíceis, que se espera serem sempre poucos ou nenhuns.
    Beijinho*

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  2. É verdade. Tenho muito medo que ele não saiba. Quero que nunca duvide.

    Obrigada!

    Um beijinho. :)

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  3. Não o tenho ao meu lado. Esta noite não. Por isso, posso chorar mais alto. Estou muito emcionada com o teu texto. As tuas fraquezas sãos as minhas, partilho das tuas falhas, sinto o mesmo amor. Obrigada pela verdade de cada palavra.

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  4. É isto. É tão isto. Não será para toda a gente. Mas é para muita gente. É tudo isto e tudo aquilo que palavras que só o coração compreende porque ainda não foram inventadas. E é tão bom que o saiba. É tão importante saber-se tão amado, em tentativas e erros que são o Amor Maior, o teu filho.
    Beijo imenso, minha querida

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