terça-feira, 17 de julho de 2012

Em nome do pai

Estava decidido. Calar-me-ia. Ela tinha dito que o pai a fora visitar. Esta noite foi a minha vez. Não me lembro de nada e lembro-me de tudo: essa luz que só quem foi amado conhece. A luz acordou comigo. Todo o amor que me plantou floresceu. Os meus pés tocaram no chão e caminhei até à sala. Liguei a uma das quatro. Disse-lhe. Esqueci-me entretanto. Estava decidido. Calar-me-ia. Trabalhei. Fui visitar o amor maior. Fomos à praia. E, pelo caminho, a luz que ele fora, voltou a lembrar-me. Era ele quem me dizia para não me esquecer de encher o depósito da água. O carro avisava-me e eu não percebi. A mão de quem nos amou nunca parte. Vive dentro de nós. Há quem a encontre na religião, na fé, em coisas de vozes do Além. Eu acredito na mão do amor, que fica na memória. Basta termos sido amados apenas uma vez para nunca mais caminharmos sozinhos. E eu nunca caminho sozinha. Depois da água, o mergulho, depois do mergulho, o caminho. E foi no caminho que percebi. Tu dizias, pai, tu dizias: "Vai devagarinho. Enquanto tens medo, vai devagarinho. Deixa-os buzinar, deixa-os insultarem-te, vai na tua, chegas lá na mesma. A estrada também é tua e tu vais como te sentires melhor". Pai: vou devagarinho. E não me calo. A estrada também é minha. Amo-te.

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