quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sim sim

Sim, tens razão, não me consigo controlar. Mas sei abrir uma ficha e endireitar os fios e a máquina de costura volta a funcionar. Sei que se deve piscar muito os olhos, assim disfarçadamente para evitar as lágrimas. E se bocejar muitas vezes também é possível desfazer nós na garganta. Não sei ser amiga de todos e não respeito opiniões. Não, não respeito. Algumas são mesmo estúpidas. Mas sei coser botões e tirar nódoas de gordura da roupa e instalar programas no computador que ficam mesmo instalados e eu nem sei como o fiz. Não sei isso de agradar à multidão e desconfio que são mais os que não gostam dos que o que me amam. Sei não me importar com isso. Sei como medir o óleo do carro e a pressão dos penus e desde que o pai morreu tenho-me lembrado de encher o depósito da água. Não da destilada, como devia ser. Mas confio. Sei isto, confio em coisas sem ciência alguma. Às vezes, é pela fé que vou. Pois, não sei amar a direito, mas a minha máquina de lavar rouoa funciona bem, porque eu limpo o filtro e nunca chamo o canalizador e quando o lavatório entupiu, fui eu que o arranjei e tu sabes que mudo a disposição dos móveis sozinha. Pois, essas coisas de que falas, eu não sei como as fazer, confesso. Mas recuperei o PC. Uma fronha de almofada, dois quilos de arroz. E sei fazer carne no forno com castanhas e embrulhos bonitos. E que primeiro se fala com o senhor da funerária e se escolhe um caixão e uma roupa branca e que só depois, só depois, e isto é para reter, se pode ficar triste. Sei como nunca contar coisas importantes que nos doem e contar outras que não dizem nada de nós, ficam assim por cima a disfarçar. Sei fazer isto. Não, não sei isso da sinceridade brutal, porque às vezes não quero ser sincera. É como secar roupa no secador, um mundo de truques, que agora não vou contar. Tens toda a razão, sei fazer isto, toma lá, podes ficar com a razão.

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