quinta-feira, 24 de maio de 2012

Os barcos também se afundam

Acho que nunca percebeste o que sentia por ti. Nunca quis realmente saber do acessório. Gostar de ti, achava eu, era gostar de coisas inteiras. Boas. Era a minha verdade e essa verdade era algo que fazia bem. Éramos amigas e éramos amigas. O que eu sentia por ti nunca foram as saídas os copos as coisas de meninas e meninos. Nem sequer as tristezas e confidências. Ou o riso, que era tanto. O que eu sentia por ti era a coisa certa. Eras o meu maior orgulho. Sempre foste o meu orgulho, o que não se inveja, o que se cuida. Eras a minha história. Estiveste lá naqueles momentos. Sabes. Acho que nunca percebeste o que eu sentia por ti. Nunca foi o cabelo ou a roupa emprestada. Eu gostava de dizer e dizia que eras a melhor pessoa que eu conhecia. Eu costumava dizer e dizia que nunca nos tínhamos chateado. Em mais de metade de uma vida, desta que é a nossa, em mais de 15 anos, eu nunca tinha tido uma dúvida de que gostavas de mim. Nem sempre gostei dos teus namorados. Dos teus outros amigos. Das tuas decisões. Mas eu tinha a certeza e dizia que eras a melhor pessoa que eu conhecia. Eu era tua amiga. Éramos amigas. Estava certo. Tu pensas que eu mudei, eu não penso que tenhas mudado. Não mudei. Não mudámos. Um dia disseste coisas que eu não sabia. Um dia disseste coisas que eu não reconhecia. Um dia perdeste. Eu sei, eu sei que quando se perde muito, pouco importa o que se perde depois. Eu não quero saber das coisas que não me contas. Que não te conto. Eu tenho todos estes anos comigo. E este tempo. Mas acho que nunca percebeste o que sentia por ti. Como é que eu digo agora que é tudo certo, depois de ter ficado tudo errado?

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