quarta-feira, 23 de maio de 2012

Segredos

Vejo-as em cima dos saltos e sei. Também os usei. A minha cara redonda, uma luz de madrugada nas bochechas, um bebé de poucos meses lá em casa. Toda essa violência,um susto tamanho, de quando um filho nos toma conta do corpo, nos leva as certezas, nos transforma tornozelos e braços, nos pulveriza como se o amor pudesse fazer desaparecer. E faz. Ou quase. Eu vejo-as em cima dos saltos mortas de medo de não se reencontrarem. A tentativa de fazer o mesmo caminho. E não há saltos que nos valham. Esse caminho é para esquecer. Há outro mais à frente, mas só mais à frente, até lá ainda somos carne. Só carne. O corpo morno é o de um bebé, somos a extensão de outro ser e não nos reconhecemos. As pessoas dizem a beleza falam do brilho passam ao lado da maternidade em adjectivos que esquecem a magia. E a verdade. Porque em cima dos saltos não sabemos que continuamos nuas, que somos apenas carne morna que ainda não nos pertencemos. Se fecharmos os olhos já não nos vemos. Temos um segredo. As mães que passam na rua têm coisas para contar mas nunca ninguém vai saber.

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