segunda-feira, 30 de abril de 2012

Total

Tem medo e só desconfia. Não sabe. Do chão de madeira a arder e da tua bota a apagar o fogo que ardia cá por dentro. Ela tem medo e não sabe do meu vestido azul e de que não há como vencer o tempo da inocência. Como não sabe das escadas, das esquinas, átrios de prédios, de um terraço enorme sobre o rio eterno. Ela não sabe que não pode destruir o que viveste. Que te não pode arrancar da ponta dos dedos a textura e do interior da língua, o sabor. Contaste-lhe dos gatos? Da mobília partida? Ela não sabe que o início está em nós, a parte mais bela, a única que vale a pena. Nada pode. Nada podes. Nada podemos. Ela não sabe de tudo isto e quer esmagar o que não é palpável. Enquanto não me perdoares, ela não pode nada. Na tua incapacidade de perdão, está a verdade.

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