terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Afasta de mim esse cálice

Abria a garrafa de vinho. Era fácil. (Eu também podia abrir uma garrafa de vinho). É sempre fácil quando não há nada a perder. As minhas respostas não estão do outro lado da garrafa de vinho. Nem as tuas. Precisas assim tanto que alguém te diga que estás a fazer tudo bem? Estás a fazer tudo bem, pronto, já disse. Já passou? Não, pois não? Eu que já perdi (quase) tudo, sei. Abrimos uma garrafa de vinho, dizemos coisas bonitas, é tudo tão leve e idiota. Dentro de nós um vulcão por extinguir e, do outro lado, alguém que acredita que não existe lava que não existe medo que não existe (já) outra pessoa. Depois, alguém se ri das nossas piadas, passa a mãos nas nossas feridas, ainda devagar. Conta-nos coisas e é outra vida e por momentos (breves) acreditamos que pode ser que podemos abrir garrafas de vinho e sermos outros. Sim, eu podia abrir uma garrafa de vinho. Imagina isto: convidava os gritos que te gritei e a incompreensão de que me acusas. Bebíamos uma garrafa de vinho. Brindávamos até. Também se desonra uma história durante uma garrafa de vinho.

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