O que é que se diz a alguém que nos invade? A alguém que durante anos construiu uma imagem de nós que não somos nós sendo verdade que aquilo que somos é toda uma vida que passa? O que é que se pode dizer a alguém que ano após ano, que vez após vez, nos invadiu a vida, nos espiou a privacidade, que entrou na nossa cabeça, nas nossas conversas, no mais íntimo de nós, sem nos pedir? Sem sequer nos conhecer?
Eu tinha um blogue, antes deste. Chamava-se Verdade ou Veneno. Um dia desapareceu. Como foram desaparecendo senhas de entrada em sítios pessoais, onde está a minha vida, os meus segredos, as minhas dores, amores, o meu filho, a minha família, os meus amigos. Quem pode assim roubar um coração? Assaltar uma vida?
Ontem, quando percebi que afinal não era o mundo da Web a pregar-me partidas, ontem quando percebi que fui invadida e violada no íntimo da minha vida, fiquei sem palavras. E, depois, fiquei triste. Queria ter sentido raiva, mas não consegui. A tristeza foi como uma casa a esmagar-me inteira. Porque quem me assaltou, nada sabe de mim. Porque quem me invadiu nunca soube nada de mim. Porque quem o fez, nunca percebeu o quadro inteiro.
Há quinze anos atrás eu tinha um amor. O meu primeiro amor. Aquele com quem se vive tudo pela primeira vez. Aquele que é o amor e amigo, que é o amor que traz amigos, que nos constrói, o que nos ensina tanto, com o qual aprendemos tudo: a felicidade plena, o êxtase, a desilusão, a traição, a culpa, a verdade de muitas coisas que se aprendem quando se estabelecem compromissos. Quando o amor se foi, tudo voou. O passado voou. Esse amor de cinco anos conheceu outro amor e construiu outras coisas, como eu construí. O resto é a vida. Tive tantas saudades. Nunca do amor, que conheci outros e melhores, mas do que vivi. Tive tanta pena de nunca mais o conseguir recordar ou partilhar. De não nos podermos rir das parvoíces. Mas tive outros amores, tantos e melhores.
E o amor do meu ex-amor, que não me conhece, que nunca soube nada de mim, a quem eu quis tanto pedir um dia que o fizesse feliz, que acreditasse naquele jeito frio, mas profundo, do meu ex-amor. Alguém que deveria parar e contemplar aquilo que herdou, que devia acordar feliz pelos dedos compridos no seu cabelo, pela lealdade que eu sei que o meu ex-amor é capaz de sentir, pela paz e por tantas outras coisas que não vou dizer, esse amor do meu ex-amor, arrrombou a minha vida. Entrou no meu mundo. Virou tudo ao contrário.
Passaram dez anos. Já não me lembro sequer bem do rosto dele. Não sei nada da vida dele. E a pessoa com quem ele dorme sabe tudo da minha vida. À força. Sem me perguntar.
Foi há DEZ anos. Passaram dez anos. Foi há uma vida.
Será ódio? Será dor?
Não sei.
Sinto isto: Porquê? Porquê eu? Porquê a minha vida?
Espero que te sintas feliz com a minha miséria. Ou com o meu brilho.
Ninguém feliz se dedica a alimentar uma vida tão pequena e mesquinha.
ResponderEliminarMuito incomoda a Luz, a quem é feito de sombras e gosta de vielas sujas.
A verdade, Paula, é sempre o melhor veneno. Está provado. E a vida tudo arruma. É só uma questão de tempo.
Será? Quero acreditar que sim, quero mesmo.
ResponderEliminarObrigada!
Paula,
ResponderEliminarcheguei aqui pelas mãos da M. e fiquei aterrorizada ao saber que existem pessoas capazes de tamanha maldade. Mas a vida é justa para os justos e a verdade impera, sempre!
Paula,
ResponderEliminarTambém aqui cheguei através da M. e mesmo cá deste lado do Atlântico sei que isso tudo só se explica com uma palavra: RECALQUE!!!
Abraço,
Werner
Tanita e Werner,
ResponderEliminarObrigada pela preocupação. Só não sei porque me custa tanto fazer queixa na polícia. Tenho pena que uns paguem pelos outros... Muito obrigada pela força!!
E M;: obrigada por esta gente boa que tens trazido!
Um abraço para todos.
doi. revolta. inquieta. transtorna. sei o que é... demasiado bem. a pessoa que mais mal me quer sabe tudo da minha vida, violou vezes sem conta a minha privacidade, perseguiu-me, espiou-me, roubou-me tempo, energia, felicidade e anos de vida. e continua à espreita, à coca, à espera que eu deixe a porta entreaberta para forçar a entrada num mundo que nunca poderá compreender. de vez enquando tenho ataques de pânico, mas a maior parte das vezes tenho fúrias. e depois? depois não faço nada. engulo. respiro com mais dificuldade, mas já não sufoco. um dia, um dia, já não será necessário esperar mais e cuspo-lhe na cara.
ResponderEliminarMaria: tira um bilhete e senta-te ao meu lado. E sê feliz. Também por causa disso, sobretudo por causa disso. :)
ResponderEliminar