Éramos quatro. Às vezes duas, outras vezes três, nunca só uma. Os nossos braços acabam numa outra e tenho a certeza que esta cicatriz continua e volta à mesma passando por todas nós. Éramos quatro em cada canto do mundo e os nossos pés nunca sairam do mesmo sítio. Sabemos as mesmas coisas, só nós sabemos como é, como foi. Se alguém começa a contar, nenhuma de nós acaba. Fazemos todas parte do final. Vivemos em duzentas casas e nunca saímos do mesmo sítio. Somos um coração, repartido em quatro e a verdade pertence-nos, a mais ninguém. Temos nomes como lealdade e amizade e dor e pena e raiva e outras coisas tantas. Tomámos banho de mangueira mas não é isso que guardámos. Temos debaixo da pele o nome de estações de comboio e de aeroportos. Não somos a varicela nem a casa de bonecas. Somos mato e Praça de Espanha. Somos Rio Douro e Oceano Atlântico. Éramos quatro a chutar pó numa campa, a lavar louça num alguidar. Temos vernizes de várias cores, mas, vendo de perto, só conhecemos uma. Cor.
Somos quatro. Seremos sempre quatro. Esta é a nossa muralha.
Gostei. Muito lindo. Faz recordar mesmo que as recordações sejam tão dolorosas!
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