sábado, 12 de novembro de 2011

Eu

Esta paixão, esta paixão. Houve um tempo em que esta paixão me enchia as veias e eu era um anjo de prata. Fui um anjo de prata. Tu, que viste, diz-me onde deixei as minhas asas, o que fizeram à fogueira onde eu ardia sem me importar?
Este chão que me comia os pés, eu, com dentes em todo o lado do corpo, a minha gargalhada que rasgava a mais funda dor que houvesse, a minha esperança, a espada que eu era.
Tu, que me viste. Quando é que deixei de me cortar?
Eu, que soube todas as danças do mundo, que fui uma labareda, menina, esposa, filha, mulher, mãe, amigo, pai, puta, inocente, cristã e pecadora, crente e deslumbrada. Que fui as vozes de toda a gente, na minha pena?
Tu, que me viste escrever, onde é que guardei a minha pena?
Eu, que aceitei a anormalidade da minha pura e cristalina paranóia, que venci o medo e a vergonha dentro do meu corpo pequeno, que descobri – tão cedo – para onde me guiavam as pernas. Que soube, desde o início, onde ficava o meu lugar. Que fiz eu à minha mais verdadeira loucura?
Quando voltarei a arder? E por quanto tempo?

1 comentário:

  1. "Vem ao pé de mim, apaziguar o meu desejo"
    Que fizemos todos à nossa mais verdadeira loucura?

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