sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Norte no Sul

No Norte, quando se ama, acaba tudo. Começa tudo. Nunca mais esqueceremos. No Sul nada acaba de repente, há mais maneiras, uma forma diferente de nos encontrarmos e de nos deixarmos. No Norte somos todas rapazes. Há um brio qualquer, uma razão secreta para não haver cavalheirismos. Somos iguais e então é uma guerra. No Sul que parece tão fácil é sempre tudo mais difícil. Se nos arrebatam, estamos doidos, se somos nós a arrebatar, estamos doidos. É assim e eu sei que não é por mal. No Norte matamo-nos, matamos, fazemos um pé-de-vento, há sempre confusão nas estações de comboio. E bêbedos, muitos bêbedos. Metade delas, das bebedeiras, por causa deles. Dos amores partidos. No Norte, uma senhora tem sempre um rasgo de aventura escondido no peito, o Norte é duro, torna-nos duros e desvairados quando amamos. No Norte ama-se tudo, a família tonta, os ricos e os pobres são histórias que se contam casa sim e casa não. No Norte, onde tudo importa, tudo se aceita. Comem-se tripas. Mas no Sul não. No Sul apaixonamo-nos mais vezes e quando damos conta fomos levados. É do calor. E não era assim tão importante. Quando, no Sul, um amor nos arranca do chão, esse é o único. E lembramo-nos do Norte: violento e terno, como todos os grandes amores.

2 comentários:

  1. Muito bem escrito! A melhor distinção entre Norte e Sul que alguma vez li. Adorei.

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  2. Muito obrigada, tão bom perceberes.

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