quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O mês da chuva

Quando acordámos, nesse Novembro, todos faziam o de todos os dias: escovavam os dentes, vestiam a roupa, comiam à mesa e as notícias eram a casa. Menos nós. Eu. No mês da chuva tudo se passava como sempre se passou e ainda que de muitos lados viessem as vozes que ouço, era demasiado. Sempre foi demasiado. As rotinas. Lavar os dentes. A roupa. As notícias. Debaixo da primeira linha da pele estamos. Estou. Por isso é que é tão difícil de explicar. Os sinos que ouvíamos faziam-nos lembrar de outro tempo e o dia um dois três e eu menos isso tudo. Tu dormias e, ao acordar, era um dia mais. Como perceberias que eu não tinha dormido? Que, ao acordar, colavam-se em mim os sonhos, que os outros lavam os dentes e há notícias em casa e que, tantas vezes, a rua não é nada. Que eu passo por baixo ou por cima, pelo meio, e que debaixo da pele sou outra coisa? Achavas engraçado nesse Novembro em que nos quase apaixonámos. Esqueceste que toda a diferença é, também, um fardo. Um acto de coragem mas principalmente nada disto. É o que é. Sem remédio. Uma inevitabilidade. Nada, em mim, é calculado. Sou assim porque sou assim, se fizer um esforço não sou eu, debaixo da pele em cima da pele, no meio da rua, por baixo, é preciso aceitar. Quando chove nesse Novembro que é sempre o mesmo mês na chuva e na vida tu viste qualquer coisa que não era. E ainda que eu te tivesse tentado explicar, nada poderia ser tão difícil de aceitar. A absoluta diferença, que não procura aceitação. Não há por onde fugir. Nesse Novembro ontem e de sempre, tu não prestaste a devida atenção.

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