segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Autópsia
Respiro muito devagar ou tento respirar até ao fundo a preparar-me antes da queda, por isso sei que ficaste com os meus pulmões. O olho esquerdo treme, julgo que treinei tão bem as mãos e o corpo para que ninguém soubesse o momento em que me desfaço, que o meu olho esquerdo decidiu acabar com o fingimento. Treme tanto, por isso sei que ficaste com os meus olhos. Fazia arroz de tomate e gostava de partir a salsa muito pequena era um bocadinho feliz um bocadinho crente e tinha fome. Nunca mais tive fome, por isso sei que ficaste com o meu estômago. Tento ouvir músicas novas e todas elas se misturam no mesmo ritmo e som como se só conseguisse ouvir o eco fundo dos meus passos sozinhos. Também os meus ouvidos? Podia falar-te dos meus pés (nunca mais pintei as unhas) ou dos meus lábios (esqueci-me do desenho), do meu peito e pernas, escondidas as curvas de um outro tempo, porque, se não as vejo, não me lembro do tanto. Devolve-me.
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